domingo, 21 de fevereiro de 2010

A terrível crise existencial do setor florestal no Brasil

O FILHO DO MEIO

As plantações florestais no Brasil enfrentam um dilema digno de assistência psicológica, pois padecem de uma terrível crise existencial. Se por um lado seu perfil eminentemente agrícola - plantio, tratos culturais, colheita e comercialização – as caracteriza como um componente do agronegócio, em sentido oposto seu produto natural é um conjunto de árvores e, como tal, são consideradas florestas. Nas trincheiras do agronegócio, as plantações florestais são discriminadas porque não participam do crédito agrícola, não possuem seguro para frustração de safra, não têm acesso a crédito para colheita e comercialização e os juros, nos poucos organismos que financiam a atividade, são maiores que os praticados para outras culturas e pecuária.

Se, buscam abrigo no universo das florestas, são rotuladas de monocultura e acusadas de não apresentarem a biodiversidade de uma floresta nativa, de serem formadas por espécies exóticas, de não favorecerem a fauna, de degradarem o solo, dentre outras afirmações que, apesar de não resistirem a uma análise científica, estão materializadas em leis e atos administrativos do poder público e cristalizadas no imaginário popular.

Essa situação assemelha-se à do irmão intermediário numa família de três filhos. A mãe, educadora por natureza, cuida para que desde menino o primogênito seja treinado e educado para ser homem, dando-lhe liberdade e despertando nele sentimentos precoces de masculinidade e virilidade, sendo-lhe proibidos, entretanto, comportamentos que indiquem fraqueza, medo ou covardia. O filho mais novo, por outro lado, é sempre muito protegido.

Terá um futuro promissor, seja no comércio, na política, nas atividades acadêmicas, eclesiásticas ou outras de igual brilho e importância. Para dedicar-se aos estudos, a mãe cuida para que não perca tempo com lazer, boemias, namoro ou quaisquer outras atividades que lhe desviem a atenção.

O filho do meio pode encarnar tanto a sina do irmão mais velho quanto a do mais moço. Entretanto, o que mais o caracteriza é que estará sempre sendo tolhido pelas restrições que são impostas acima e abaixo: "Aos dois mais velhos não é permitido chorar, porque são homens". Aos dois mais novos não é permitido sair à noite, porque são crianças".

As plantações florestais são como o filho do meio. Num extremo arcam com todos os problemas inerentes ao agronegócio e não se beneficiam em nenhum momento das benesses concedidas a esse setor. Na outra ponta sofrem todas as restrições e controles impostos ao uso de florestas nativas, ao mesmo tempo que carregam a pecha de impactar negativamente o meio ambiente, não podendo "curtir" o privilégio de ser floresta. Nos cursos de Engenharia Florestal existe um tema denominado fitossociologia.

Que os cientistas debrucem-se sobre a matéria e iluminem os legisladores e administradores públicos, porque os produtores florestais estão começando a assimilar a síndrome da plantação florestal, cujo sintoma é o desabastecimento de matérias-primas florestais no mercado e a conseqüente pressão sobre as matas nativas.

Aí, salve-se quem puder!

Fonte: ABRACAVE - Associação Brasileira de Florestas Renováveis - www.abracave.com.b