sábado, 15 de maio de 2010

UMA IMAGEM INCÔMODA

No Brasil, a extração de madeiras migra muito lentamente das florestas nativas para as áreas reflorestadas, o que nos confere uma imagem incômoda de grandes derrubadores de florestas. E não é para menos, pois segundo a FAO (2001), a área de florestas plantadas no Brasil (milhares de ha) é extremamente pequena se comparada com outros países:

Brasil

Japão

EUA

Russia

India

China

4.982

10.682

16.238

17.340

32.578

45.038

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Rentabilidade atrai investidores para o mercado de eucalipto
Fonte: Bruno Sales/Campo News

Cansados de apostar na agricultura ou na pecuária, muitos produtores rurais estão migrando para o plantio de eucalipto, uma cultura que demanda planejamento, pois o primeiro corte ocorre no mínimo cinco anos após o plantio. O setor é responsável atualmente por 6% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

Segundo o levantamento feito pela Abraf (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas), entre os anos de

2005 e 2008 a área com a cultura cresceu 878,5 mil hectares, ou seja, passou de 3.407,2 mil hectares para 4.285,7 mil hectares.

Para atender essa demanda, as principais empresas do setor, como a Eucatex, possuem seus próprios viveiros de mudas,

que abastecem as áreas de plantio da empresa e de seus parceiros. Hoje, o viveiro da empresa, em Bofete (SP), é

responsável pela produção anual de 15 milhões de mudas e passará por ampliações, para produzir 23 milhões de mudas

por ano.

“As mudas de eucalipto são produzidas através do sistema de miniestaquia, método de propagação vegetativa por

enraizamento de estacas, que gera clones de alta produtividade. As mudas são expedidas livres de doenças,

com sistema radicular ativo, e rustificadas, o que garante uma melhor sobrevivência no campo. A produção de mudas

também pode ser feita a partir de sementes melhoradas”, explica Hernon José Ferreira, gerente da Eucatex Florestal.

Produtores autônomos também contam com viveiros particulares, como a Flora Pison, em Salto (SP). Boa parte da

produção da empresa é destinada a indústrias de reflorestamento, como a Votorantim Celulose e Papel e a

Eucatex, mas a empresa também atende clientes particulares.

“Atualmente, 80% das nossas mudas são destinadas ao plantio corporativo de grandes empresas, mas

20% da produção fica com uma clientela significativa, formada por sitiantes e fazendeiros, que cansados

com a baixa rentabilidade de outras culturas, apostam na rentabilidade garantida do eucalipto”, avalia

Horácio Luz, engenheiro florestal e gerente técnico da Flora Pison.

Mercado

Batizado de ‘poupança verde’, o mercado de eucalipto tem se mostrado um excelente investimento.

Raramente ocorrem oscilações de preços. Para o investidor que tem uma propriedade rural e algum

dinheiro em caixa, a melhor opção é bancar os custos de plantio e manutenção, que são maiores

no primeiro ano, e nos anos seguintes somente é necessário a manutenção, como acerramento da

área de plantio, por exemplo.

Segundo a Bolsa e Mercado Futuro do setor, a madeira serrada tem mostrado uma tendência de

alta. Em setembro deste ano, a cotação era de US$ 176,8 por mbf (mil pés quadrados equivalem a

92,90 metros quadrados). Para contratos em julho de 2010, o valor está em US$ 220,2 por mbf.

Para a indústria, o mercado mundial está em crescimento. Quando começou a ser registrado, em

novembro de 2002, o valor da celulose de fibra curta não parou de crescer. Inicialmente a

tonelada era cotada em US$ 490,00 e atingiu o auge em setembro de 2008, valendo US$ 850,42 a

tonelada.

Neste ano, em razão da crise mundial, houve uma queda nos preços da celulose de fibra curta,

sendo a menor baixa registrada em maio, pelo valor de US$ 502,00. O mercado reagiu e neste

mês a tonelada está sendo cotada a US$ 702,00.

“Não existe melhor investimento na atualidade do que o plantio de eucalipto, pois a rentabilidade

chega até 35% ao ano. Não existe investimento no mercado de ações que cubra esses valores.

Cabe ao produtor procurar uma empresa idônea, que dê uma consultoria técnica, auxiliando na

escolha da variedade ideal do eucalipto, além disso, que garanta a qualidade da muda produzida”,

comenta Luz.


Manejo de florestas de eucalipto para usos múltiplos:

Fonte: REVISTA DA MADEIRA / nº 75 - ano 13 - Agosto de 2003

A produção tradicional de eucalipto no Brasil tem se utilizado do sistema de corte raso aos 6 ou 7 anos de plantio, seguido de condução da rebrota por mais 1 ou 2 rotações. O principal mercado dessa madeira são as empresas que a transformam em celulose, chapas e, principalmente, carvão vegetal para uso siderúrgico, geralmente em regimes auto-sustentados e verticalizados. Produzida em alta escala para atender à demanda acelerada desse parque industrial, essa madeira, destinada a processos transformadores destrutivos, tem como maiores parâmetros de avaliação o volume produzido por área/tempo( produtividade), a densidade básica e algumas características tecnológicas ligadas ao produto final, como teor de carbono fixo( carvão) e dimensões de fibras (celulose).

Dentro desse quadro, quase não houve espaço para o desenvolvimento de florestas de eucalipto que visassem à produção de madeira chamada nobre, obtida em serrarias, para uso em carpintaria e marcenaria, como móveis, portas, janelas, esquadrias, pisos, peças estruturais e revestimentos. Este uso difere bastante daquela produção para a indústria de transformação já citada, pelo fato básico de que a madeira é utilizada na sua forma sólida e o produto final expõe as características externas da madeira. É óbvio que a obtenção dessa madeira de alta qualidade e com propriedades variadas para cada uso implicará na adoção de métodos silviculturais de manejo bem específicos.

A potencialidade de uso do eucalipto como madeira serrada não é nenhuma novidade, tendo sido bastante enfatizada desde a sua introdução no Brasil, conforme exposto por Navarro de Andrade. Outros países, como a Austrália, Argentina, Chile, Espanha já vêm usando a madeira na sua forma sólida, com excelentes resultados. A concepção, no entanto, por comparações com o porte e tradições de uso das madeiras nativas, recomendava um manejo de ciclos longos, superiores a 30 ou 40 anos, para obtenção de toras grossas e cernes coloridos, além de uma maior estabilidade da madeira.

Um dos principais fatores que sempre atrasou o emprego bem sucedido do eucalipto em marcenaria e carpintaria foi a abundância de madeiras nativas, de excelente qualidade e a preços reduzidos. A própria literatura de engenharia civil e de tecnologia de madeira utiliza exaustivamente exemplos baseados em madeiras nativas, como o cedro, peroba, imbuia, ipê e jacarandá. O que se viu ao longo dos anos foi a exploração desenfreada das florestas nativas de todo o território brasileiro. As conseqüências diretas têm sido a grande elevação dos preços e a perda de sua qualidade, com a diminuição da oferta e com as grandes distâncias entre as fontes de produção e as fontes de consumo, com fretes mais caros que a própria madeira, forçando a substituição de fontes mais nobres de outrora por espécies de menor qualidade, além de grande heterogeneidade do material . É prática comum a mistura de espécies nativas semelhantes sob o mesmo nome comercial.

A alternativa mais viável, a curto prazo, para substituir a madeira de espécies nativas e atender à demanda sempre crescente é o eucalipto. Excelentes produtividades em amplas áreas reflorestadas, pleno domínio das tecnologias de produção de sua madeira e a certeza de gerar grandes volumes que atendam às indústrias madeireiras e ao mercado moveleiro, conferem uma posição ímpar ao eucalipto.

Usos múltiplos

Em geral, as empresas de reflorestamento realizam seus empreendimentos com objetivos industriais muito bem definidos. Ao se realizar o plantio, já se define o destino do material a ser produzido. Muitas vezes, no entanto, as condições econômico-financeiras, crises setoriais ou excesso de oferta prevalescentes na época de exploração da floresta forçam a busca de mercados intermediários e usos alternativos para a madeira produzida. O grande estoque de madeira de eucalipto, atualmente disponível, com idades e diâmetros maiores, é remanescente desses plantios antigos, cuja utilização final (serraria e laminação) é bem diferente daquela proposta no início.

A grande maioria das florestas com eucaliptos no Brasil é manejada para produção de rotações curtas (sete a oito anos), para a produção de celulose, carvão vegetal e painéis. Tais florestas são implantadas, na sua maioria, levando em consideração apenas a produção de biomassa e o rendimento volumétrico. Várias são as razões para que o eucalipto possa ser indicado como alternativa de oferta de madeira para inúmeros usos. Apesar de a maior parte de suas florestas estar comprometida com a produção de madeira para os denominados usos tradicionais: celulose, papel, chapa de fibras, carvão vegetal e lenha, espera-se que uma parcela possa ser destinada a outras aplicações madeireiras. O potencial do eucalipto, em relação ao número de espécies, proporciona também um importante leque de alternativas para a obtenção de madeiras com diferentes características tecnológicas. Por certo, serão encontradas espécies que substituirão, com vantagens, as madeiras atualmente em uso. Vem daí o crescimento do interesse pelos conhecimentos existentes sobre o eucalipto diante do chamado uso múltiplo da madeira.

O potencial de utilização múltipla da madeira de eucalipto cresce sobremaneira se toda a versatilidade do gênero for utilizada. É necessário que os conceitos tradicionais sejam revistos, reavaliando-se as espécies selecionadas e as técnicas de implantação, manejo, exploração, processamento e uso.

No hemisfério norte, é prática corrente o uso múltiplo das florestas e da madeira. Numa mesma área plantada, pode-se ter vários padrões de madeira, com vários usos. Em geral, são feitos desbastes periódicos, acompanhando o desenvolvimento da floresta. No caso do eucalipto, já aos quatro anos, é feita a primeira intervenção na floresta, retirando-se grande parte das árvores. As árvores remanescentes produzem madeira de alta qualidade e isto se reveste de importância estratégica, na medida em quer ocorre uma valorização da madeira de eucalipto. Simultaneamente, as áreas destinadas à produção madeireira oferecem outros benefícios, destacando-se a contribuição para melhorar o equilíbrio ecológico, através do sub-bosque mais denso e diversificado, além de uma ciclagem de nutrientes mais efetiva. Essas florestas oferecem um ambiente mais estável à fauna por um prazo maior, que pode ser manejado num sistema de mosaicos, entremeadas aos reflorestamentos convencionais, com vantagens evidentes. Além disso, cria-se uma excelente alternativa para harmonizar a produção florestal rentável com a conservação ambiental. É preciso, no entanto, compatibilizar os aspectos operacional-econômico e o silvicultural-ecológico, fazendo-os atuam em sinergia.

Os desbastes são cortes parciais feitos em povoamentos imaturos, com o objetivo de estimular o crescimento das árvores remanescentes e aumentar a produção de madeira de melhor qualidade. Os desbastes são executados por diversos motivos, entre eles: incrementar a produção de madeira, melhorar a qualidade do produto final, aumentar a rentabilidade da floresta e diminuir os riscos de prejuízos causados por ventos, incêndios de copas e ataques de pragas e doenças. Através de cortes intermediários, é possível obter madeira, gerando renda para manter a cultura, por um tempo maior e, no corte final, ter uma madeira madura, de excelente qualidade. Os desbastes deverão ser complementados com operações de desrama, para produção de madeira isenta de nós.

As primeiras intervenções com desbastes em florestas de eucalipto, no Brasil, foram feitas no início do século, nos diversos hortos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, no estado de São Paulo. Visavam à produção de madeira para usos múltiplos, desde a lenha para combustível nas locomotivas até moirões de cerca e postes margeando a ferrovia, fornecendo, ainda, os dormentes e o madeiramento para construção das estações e vilas, ao explorar reflorestamentos com idades mais avançadas.

As bases para condução dos eucaliptos através dos desbastes podem ser, assim, resumidas:

a) existem espécies que respondem melhor às práticas de desbaste que outras;

b) os desbastes moderados e frequentes são preferíveis aos fortes e espaçados, devendo a área por árvore aumentar mais rapidamente na fase juvenil, pois as respostas são muito melhores do que no estado adulto;

c) os desbastes precoces ou exagerados são inconvenientes por prejudicarem a formação da copa, estimularem as brotações laterais indesejáveis e sujeitarem as árvores delgadas à ação danosa dos ventos, sem permitir adaptação gradativa;

d) Os espaçamentos iniciais mais amplos não substituem os desbastes sucessivos, pois compromete a forma das árvores, o volume total será menor e os defeitos da madeira ficarão mais acentuados e irremediáveis .

Algumas empresas florestais brasileiras já vem adotando os desbastes em seus reflorestamentos. Tal prática é feita com acompanhamento minucioso de inventário qualitativo e quantitativo das áreas em questão, através de um plano de regulação da floresta. Existem dois métodos que são mais colocados em prática, utilizados unicamente em sítios considerados bons:

1) O método consiste em se fazer duas a três intervenções na floresta, aproximadamente, aos 4, 7 e, quando possível, aos 10 anos de idade, retirando-se 40, 30 e 30%, respectivamente, das árvores. Deve-se retirar as árvores dominadas, tortuosas, mais finas, bifurcadas, com defeitos, privilegiando as melhores árvores. A definição dessas árvores é pelo método seletivo, acrescido da sexta linha de plantio que deverá ser sistematicamente retirada, para fins de exploração.

Experiências no Rio Grande do Sul propuseram o seguinte regime de desbastes para Eucalyptus grandis, plantado num espaçamento de 3,0 x 2,0 m (1667 plantas):

- Primeiro desbaste (aos 4 anos ) – deixar 950 plantas/ha;

- Segundo desbaste (aos 8 anos) – deixar 475 plantas/há;

- Terceiro desbaste (aos 11 anos) – deixar 238 plantas/ha;

- Corte final – aos 20 anos, com produção prevista de madeira para o final do ciclo de 540 m3/ha, sendo 275 m3 para serraria, 130 m3 para laminação e 135 m3/ha para outros usos.

Algumas empresas vêm realizando desbastes em suas florestas, visando à produção de madeira de qualidade para serraria e laminação.

2) O segundo método consiste em selecionar as melhores árvores, isentas de defeitos, em número de 200 a 300 árvores por hectare e não derrubá-las por ocasião do primeiro corte, que deve acontecer por volta dos 7 anos; Todo o material cortado deverá ser retirado da área para permitir a regeneração das cepas e aproveitar a brotação que crescerá juntamente com as árvores poupadas; aos 14 anos, pode-se fazer nova intervenção da floresta, retirando-se o material da brotação, mas poupando as melhores árvores que ficaram na área. Proceder finalmente um raso em toda a área, por volta dos 21 a 23 anos. As vantagens desse método, denominado “exploração com remanescentes” são comprovadas pela literatura, onde se obtém madeira para serraria com qualidade ao final dos três ciclos; a madeira de diâmetro inferior pode ser usada para carvão, celulose, painéis, lenha, moirões e outros usos. O método não pode ser aplicado em sítios arenosos (pobres) e não deve ser usado para algumas espécies, como o Eucalyptus saligna, intolerantes à regeneração sob estrato superior.

Resultados esperados

A EMATER-MG, utilizando um estudo de simulação para manejo de florestas sob uso múltiplo, apresentou os seguintes dados:

- Dados de manejo convencional, em sistema de corte raso aos 7 anos, com incremento médio de 30 st/ha/ano, espaçamento de 3 x 2m, com maciços de 1666 árvores/ha, com um índice de perda de 10%, e um valor final de R$ 5,00 por estere de madeira .

- Dados de manejo para uso múltiplo, em sistema de desbaste seletivo aos 7 anos, com 600 árvores remanescentes com incremento médio de 30 st/ha/ano, espaçamento de 3 x 2 m, com maciços de 1667 árvores/ ha, com um índice de perda de 10%, um valor final por árvore de R$ 17,50.

Face à grande demanda de madeira com maiores diâmetros e idade superior a 15 anos, fala-se em R$ 70,00 a 80,00 o preço do metro cúbico da madeira em toras; no Paraná (leia-se Klabin), o custo é de R$ 100,00 a tonelada. A madeira de eucalipto serrada e seca da Aracruz tem preços que variam de R$ 1300,00 a 450,00 o metro cúbico. Em todas as situações, a taxa interna de retorno é muito superior a qualquer alternativa de utilização da madeira.